“O homem não pode abster-se da filosofia”, diz Jaspers com razão. “Ela está presente
em todo lugar e sempre. A única questão que
se apresenta é saber se ela é consciente ou
não, boa ou má, confusa ou clara”. Na verdade, a pesquisa da verdade científica, que
só interessa aliás a uma minoria, não exaure¹
em nada a natureza do homem, mesmo nessa
minoria. Resta que o homem vive, toma partido, crê em multiplicidade de valores, hierarquiza-os e dá assim um sentido à sua existência por opções que ultrapassam sem cessar
as fronteiras do seu conhecimento efetivo. No
homem que pensa, essa coordenação pode
ser raciocinada, no sentido de que, para fazer a síntese entre aquilo em que acredita e
que sabe, só pode utilizar uma reflexão, seja
prolongando seu saber ou opondo-se a ele
em um esforço crítico para determinar suas
fronteiras atuais e legitimar a colocação dos
valores que o ultrapassam. Essa síntese raciocinada entre as crenças, quaisquer que
sejam, e as condições do saber, é o que nós
chamamos de uma “sabedoria” e tal nos parece o objeto da filosofia.
(Piaget, Jean. Sabedoria e Ilusões da Filosofia.
Tradução de Zilda Abujamra Daeir. S.Paulo.
Difusão Europeia do Livro)
¹exaurir = esgotar
De acordo com o texto:
a) A minoria que está interessada na verdade
científica não se ocupa com o sentido
da vida.
b) A busca da verdade filosófica esgota a natureza
de uma minoria da humanidade.
c) O homem que vive, que toma partido,
que crê em multiplicidade de valores, não
dispõe de tempo para a filosofia.
d) A reflexão amplia o saber, questiona o
próprio saber e justifica o que está fora do
alcance do saber.
e) A crença nos valores e sua organização
fazem parte da natureza humana para alcançar
a verdade científica.